terça-feira, 29 de junho de 2010

Ruina:

" Um monge descabelado me disse no caminho :
EU QUERIA CONSTRUIR UMA RUÍNA.Embora eu saíba que ruínas é uma desconstrução. Minha idéia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para ABRIGAR O ABANDONO como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem nimguém dentro. (O olho do monge estava perto de ser um canto.) Continuou: digamos a palavra AMOR. A PALAVRA AMOR ESTÁ QUASE vazia. Não tem gente DENTRO DELA. Queria construir uma ruína para salvar a palavra. Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo.
E o monge se calou descabelado "

Manoel de Barros

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